quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Laudo confirma que motorista morreu após ter artéria perfurada durante lipoaspiração em SP



O laudo necroscópico da motorista Maria Irlene Soares da Silva, de 43 anos, apontou que a paciente morreu após ter tido a artéria aortaabdominal perfurada durante cirurgia de lipoaspiração e colocação de implantes de silicone, em dezembro do ano passado.  
Segundo o exame, realizado pelo IML (Instituto Médico Legal) Central, a morte de Maria Irlene ocorreu após “lesão traumática da artéria aorta abdominal, com hemorragia imediata e intensa".
O laudo confirma a declaração de óbito da vítima, que indicava “hemorragia interna aguda traumática” e acrescenta que ela foi provocada por “por agente corto-contundente”.
— O instrumento que causou a lesão letal acidental foi uma cânula de lipoaspiração. Por seu mecanismo de ação (sucção através de abertura subapical) e pela configuração da lesão causada, pode ser classificado como agente corto-contundente.
O procedimento cirúrgico em Maria Irlene foi realizado na Clínica Wagner Fiorante, na Vila Nova Conceição, bairro nobre da zona sul de São Paulo. De acordo com o 15º Distrito Policial, onde o caso foi investigado, o médico foi indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar) e o inquérito já está com o Ministério Público.
Fiorante foi indiciado pelo mesmo crime em razão da morte de outra paciente, operada em abril do ano passado. A mulher, também submetida à cirurgia de lipoaspiração, morreu em decorrência de uma hemorragia interna aguda em consequência de lesões de vasos abdominais.
Ressuscitação
O laudo necroscópico de Maria Irlene aponta ainda “embolia gordurosa assinalada em pulmão direito” e esclarece que ela não estava associada à morte e “decorreu das manobras de ressuscitação”. Diz o documento:
— O exame anátomo-patológico foi colhido apenas com valor documental, para reforçar o esforço realizado em manobras de ressuscitação.
A polícia informou que comunicou os casos ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo. O objetivo é fazer com que o médico tenha suspensa a licença para atuar em cirurgia plástica.
"Uma fatalidade"

Por meio de sua assessoria de imprensa, o médico Wagner Fiorante respondeu, via e-mail, que considera o caso “uma fatalidade”.

— Mesmo quando procuramos dar o nosso melhor, ocorre uma fatalidade como essa que aconteceu. E ela não leva apenas a vida do paciente, leva também muito da nossa própria vida, da nossa história, e deixamos para trás 30 anos de bem-sucedida carreira médica, na qual temos a consciência de que muito fizemos pelo nosso semelhante, para nos fixarmos apenas no acontecido.

Em tom de desabafo, o cirurgião enfatizou que tem “aprendido muitas lições de humildade e e como somos limitados diante de uma vontade muito maior que a nossa, aquela que decide destinos e tem o poder sobre vida ou morte”.  

— Trago de berço valores como caráter, retidão moral, compaixão e fraternidade – por  isso escolhi a área médica por profissão e justamente a área da qual pudesse transformar o sonho das pessoas em realidade, corrigindo um nariz, uma barriga, uma deformação congênita e as causadas por acidentes do percurso, queimados, mutilados.

Dizendo-se triste com o que aconteceu, acrescentou ainda que a área médica é ‘cheia de riscos e não permite erros".

— Apesar dos muitos acertos, de muitas realizações gratificantes, de muitas cirurgias bem sucedidas, dos cursos, das atualizações, das especializações no exterior, as coisas acontecem independente da nossa vontade.
 

"Minha  irmã não vai voltar mais"
Maria Alice Soares da Silva, irmã de Maria Irlene, conta que o resultado do exame necroscópico não surpreendeu os familiares.
— A gente tinha certeza de que havia sido um erro médico. Eu já fiz cirurgia plástica e conheço muita gente que fez. No atestado (de óbito) já estava dizendo que era erro médico.
Ela diz que está processando o cirurgião e que a filha de outra paciente, morta em abril do ano passado, também será convidada a participar da ação.
Mas Maria Alice destaca que nada será capaz de reparar a perda da irmã.
— Minha irmã não vai voltar mais. Não tenho nem palavra para dizer o que a família está sentindo. Ainda está tudo muito recente. Não teve (festa de) final de ano, não teve nada. Estávamos programados para viajar no Carnaval, mas ninguém foi. A família se encontra e já começa a chorar. O que a gente quer é justiça.
Maria Irlene deixou três filhos, o mais novo tem 12 anos. Segundo Maria Alice, a irmã era "o pai e a mãe da criança".

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