segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Academias: fim a obrigatoriedade do exame médico divide opiniões



Academias de São Paulo não são mais obrigadas a exigir exame médico de novos alunos ou renová-lo após seis meses. A regra, que era válida até o dia 9 de janeiro, foi modificada pelo vereador licenciado Antonio Donato (PT) e promulgada pelo presidente da Câmara Municipal, José Américo (PT). Se por um lado alguns alunos comemoram uma etapa a menos na hora na matrícula, por outro os médicos criticam a mudança.
A partir de agora, só precisarão fazer exames alunos que estão fora da faixa etária entre 15 e 69 anos.  Os demais só serão obrigados a responder um questionário com perguntas relacionadas a problemas ósseos, nas articulações, circulatórios e cardíacos. Caso haja suspeita de alguma doença ou complicação, a academia pode encaminhá-lo a um especialista, mas não é obrigada a assumir qualquer responsabilidade.
Incentivo à prática de exercícios
A justificativa para apresentar o projeto foi de que a obrigatoriedade do exame médico faz com que os alunos percam o incentivo às atividades físicas em academias e optem por exercícios em casa ou ao ar livre, o que pode causar mais danos à saúde. A iniciativa, porém, divide opiniões entre alunos, instrutores e médicos.

 “Nós ficamos muito felizes com a mudança. Acredito que não existe lugar melhor e mais seguro para praticar exercícios físicos do que dentro de uma academia. O grande risco é comprar uma revista e treinar sozinho, sem orientação de um profissional ou descer no condomínio e treinar em três ou quatro equipamentos por conta própria. Esse é um lugar com profissionais treinados para orientar os alunos”, defendeu Peter Thomas, diretor da Runner. Para ele, a obrigatoriedade servia como tática para “capitar clientes para consultas”. “A gente recebia atestado de oftalmologista, ginecologista e outros profissionais que não são especializados em condicionamento físico. Era uma lei muito fácil de ser burlada”, disse.
Frequentador assíduo de academia, o designer Paulo Brandão, de 26 anos, não gostou da novidade. “Independente de a pessoa praticar ou não exercícios físicos, ela precisa se consultar com um médico para ver se está tudo bem”, opinou. Ele pratica musculação todos os dias e não abre mão de fazer avaliações sempre que preciso.
Diferentemente de Paulo, o publicitário Leonardo Novaes, de 24 anos, que também não fica um dia sem fazer musculação, acha que essa é uma barreira a menos para os alunos. “O exame médico nunca serviu para nada, boa parte das academias só o exigia quando o aluno se matriculava. Avaliações mais completas que medem os níveis de gordura e tamanho dos músculos são mais úteis e efetivos para quem faz musculação”. Para ele, o fim da obrigatoriedade só coloca em prática o que já acontece nas academias porque “ninguém se importa com o exame médico”.
Doença silenciosa
Preocupados, profissionais da saúde criticam a medida e alertaram para “doenças silenciosas”, que podem causar um ataque cardíaco durante a prática de exercícios.  “No consultório, você faz um exame clínico, vê as condições do paciente. Se necessário e dependendo da idade, são realizados alguns exames como o eletrocardiograma. A maior incidência de infarto é aos 65 anos, então liberar pessoas entre 15 e 69 anos é muito preocupante”, justificou André Negrão, clínico geral e cardiologista do Hospital São Luiz, em São Paulo

Por isso, ainda que alguns alunos comemorem a facilidade do processo, médicos são contra as mudanças, principalmente para pessoas sedentárias, que resolvem se exercitar depois de muito tempo. “Mesmo se for apenas uma caminhada, ela gera um grau de energia capaz de flagrar uma doença no coração. As doenças cardíacas são silenciosas”, alertou o cardiologista.
“É importantíssimo realizar o exame médico no consultório para adequar o estado da pessoa com a atividade física. Todo exercício precisa ser monitorado. Já vi algumas tragédias em academias. Eu me lembro de um rapaz jovem que enfartou enquanto fazia exercícios. Desceu para o vestiário com dores e acabou tendo uma parada cardíaca”, relembrou André. De acordo com ele, isso é mais comum de acontecer do que a gente imagina.

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