domingo, 21 de agosto de 2011

Facebook Messenger é a nova ameaça ao Google e às operadoras


Na mesma semana em que manifestações agressivas explodiram em Londres incitadas por trocas de mensagens entre usuários de BlackBerry Messenger, aplicativo de mensagens instantâneas dos smartphones da Research In Montion (RIM), a rede social de Mark Zuckerberg anunciou o Facebook Messenger. Tanta força de um app e tanto investimento em programas similares, que permitem ao usuário conversar mais rapidamente através de seus dispositivos móveis, não são por acaso. Não apenas os fabricantes de smartphones como a RIM, mas também as redes sociais descobriram o lucrativo mercado da troca de mensagens que vai para além do SMS (do inglês, Short Message Service).
No comunicado sobre a novidade, o engenheiro do Facebook Lucy Zhang explica: "o Messenger é um aplicativo distinto: basta um clique para receber ou enviar suas mensagens, que são entregues por meio de notificações e textos, o que aumenta a probabilidade de seus amigos receberem-nas na hora. Você pode usar o Messenger para falar com todos os seus amigos - estejam eles em sua lista do Facebook ou nos contatos do seu celular. Basta digitar o nome da pessoa. O aplicativo Messenger é uma extensão das mensagens do Facebook, o que significa que todas as suas conversas ficam agrupadas em um único local, incluindo seus textos, bate-papos, e-mails e mensagens. Assim sendo, não importa se você está usando seu celular ou navegando na web, o histórico completo de todas as suas mensagens está sempre disponível".
Lançado para iPhone e para smartphones com Android, o Facebook Messenger está inicialmente restrito aos Estados Unidos, mas já causou furor em todo o mundo e despertou o interesse da mídia internacional. Ao contrário da BlackBerry e da Apple, que possuem programas de mensagens instantâneas gratuitos, mas que também têm contrato com operadoras de telecomunicações móveis, o Facebook não é, pelo menos por enquanto, do mesmo ramo. Através do aplicativo original do Facebook, como explica matéria da CNN, o usuário do Facebook já consegue falar com seus amigos por mensagens, mas da mesma forma que no site, mas só. O Facebook Messenger torna-se, então, o primeiro aplicativo autônomo da rede social de Zuckerberg e sua primeira incursão no mundo das telecomunicações de fato.
O Facebook Messenger é o resultado direto da compra da Beluga em março deste ano. O Beluga é um programa que permite ao usuário incluir fotos e coordenadas de localização com as mensagens e também o envio de mensagens de texto para números de telefones, muito do que faz hoje o app do Facebook. De acordo com a CNN, no início do ano, quando engenheiros da Beluga foram para a sede do Facebook em Palo Alto, na Califórnia, Adrew Bosworth, diretor de produto da rede social, disse que "um clique na tela inicial é uma característica valiosa", dando a entender que um novo app é melhor do que o usuário ter a necessidade de abrir o aplicativo original do Facebook para procurar novas mensagens. Segundo ele, em entrevista dada antes do anúncio desta semana, o programa foi construído para uma convergência entre dispositivos móveis e web e e-mail e um monte de coisas.
Naquela época, antes do nascimento do Facebook Messenger, Bosworth já apontava para o óbvio: as operadoras de telefonia celular em nada gostariam de um aplicativo desses. Afinal, elas obtêm algum lucro com planos de mensagens de texto (SMS) e de taxas em cima de mensagens enviadas para número de outras operadoras. "SMS para SMS: esses são controlados pelas operadoras. É um circuito fechado", disse ele em março, conforme a CNN.

Redes sociais versus operadoras

Perigo para as operadoras de telefonia móvel, o Facebook chega para ser uma pulga atrás da orelha também dos fabricantes de smartphones, especialmente da RIM, responsável pelo BlackBerry Messenger, e da Apple e seu iMessage, que permite que usuários de iPhone, iPod Touch e iPad mandem mensagens de graça para outros usuários desses mesmos produtos da Apple. Já anunciando por Steve Jobs, fundador da Apple, o iMessage deve ser lançado em breve como parte da versão 5 do iOS, sistema operacional para dispositivos móveis, e funcionará em redes Wi-FI e 3G inicialmente.
O BlackBerry Messenger funciona de forma similar ao Facebook Messenger, só que através do número do PIN dos smartphones, com a vantagem de que além da troca de mensagens e fotos, o usuário recebe por ele suas notificações nas redes sociais, inclusive a a de Mark Zuckerbeg, Twitter e de e-mails. O BBM já é amplamente utilizado em grandes corporações e, como se viu recentemente, entre jovens revoltados do Reino Unido que enviaram pelo serviço dos smartphones BlackBerry a mensagem: "Todo mundo, de todas as partes de Londres, vá para o coração de (o centro de) Londres, OXFORD CIRCUS!! Lojas abertas serão destruídas, então venham pegar alguma coisa. Se você vir um irmão... SAÚDE! Se você vir um cana.... ATIRE!". A RIM disse em julho que seu BBM conta com mais de 45 milhões de usuários em todo o mundo, de acordo com o jornal The Guardian.
Em maio, durante um evento da BlackBerry, experimentei a comunicação via BlackBerry Messenger e impressiona como um aplicativo que aparentemente parece similar ao SMS pode ser muito mais instantâneo. Talvez pelo fato de não ser taxado, do aviso vermelho que pisca, ou mesmo da rapidez como outra pessoa pode responder a sua mensagem, a verdade que com o BBM is jornalistas que cobriam evento trocam muito mais do que mensagens. Releases, perguntas sobre a conferência que estava acontencendo naquele momento, fotos de produtos e até dos eventos de confraternização foram compartilhados no grupo de jornalistas latino-americanos, em mais de uma língua, inclusive. Até coletiva de imprensas foram marcadas pelo BBM sem que gastassemos um centavo, o que certamente liberta o usuário para escrever quantas mensagens ele quiser.
Obviamente, o Google também está na mira do Facebook com seu Messenger: há poucos meses, o gigante das buscas lançou seu Google+ e com ele o Huddle, serviço de trocas de mensagens individuais ou em grupo entre usuários da rede social via smartphone. O Huddle também possibilita que o usuário envie mensagens em grupo e para Android (2.1 ou superior) apenas. E isso tudo além do Google Voice, de 2009, serviço que providencia um número de telefone para o usuário, que o usa (e paga) tal como um telefone comum, porém, pela internet, ao modo Skype.
Bosworth, segundo a CNN, afirmou que esse tipo de aplicativo como o Facebook Messenger está tomando o espaço dos SMS e movendo-o para longe daquele circuito fechado e colocando-o em outro espaço. A respeito do assunto, Marni Walden, chefe de Marketing da Verizon Wireless, uma importante operadora dos Estados Unidos, disse à CNN que a empresa pretende, eventualmente, passar todos os seus serviços para a rede 4G LTE e que ainda não sabe como ficaria o preço dos SMS. Walden disse também que as telecons estão em uma posição da qual sempre precisam evoluir para gerar receita para seu negócio e que a Verizon não vai fugir do que está acontecendo lá fora, que eles vão inovar mais ou integrar as novidades aos seus dispositivos melhor do que ninguém, ao invés de bloqueá-los.
Neste sentido, vale lembrar que para além do mercado de redes sociais e de fabricantes de smartphones, outras empresas do setor de tecnologia já descobriram este "filão". O WhatsApp Messenger já é utilizado por 800 mil pessoas só no Reino Unido, enquanto os canadenses se inscrevem no Messenger Kik. Os dois são aplicativos para smartphones que aproveitam a conexão à internet, seja via Wi-Fi ou 3G, para conectar os usuários gratuitamente.

E o Brasil?
No Brasil, onde os smartphones já estão tomando o lugar dos celulares sem acesso à internet, os aplicativos de troca de mensagens gratuitos ainda não são uma ameaça às operadoras. O BlackBerry Messenger, dada a penetração do aparelho no mercado corporativo é provavelmente o único com números de usuários consideráveis. O Facebook Messenger nem foi lançado fora dos Estados Unidos ainda e o Huddle, do Google+, é tão novo quanto a rede social lançada em junho deste ano. Além disso, aplicativos como WhatsApp e outros são, em sua maioria, em inglês, o que dificulta o interesse de muitos usuários.
Entretanto, assim como a entrada da comunicação via rádio mexeu com o mercado e fez muitas operadoras correrem atrás da concorrência para não perder clientes, o mesmo deve acontecer se os aplicativos de comunicação instantânea gratuita vieram para ficar. Como o Brasil não está no mesmo momento que os Estados Unidos e Europa, com várias opções de aplicativos do tipo, torna-se complicado saber quando isso acontecerá. Nem nos Estados Unidos grandes empresas como AT&T e Verizon sabem o que fazer com esses aplicativos ainda. Porém, essa parece ser uma tendência global difícil de escapar, tanto para usuários quanto para operadoras de telefonia celular.

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