Esta sexta-feira marca os seis meses em que um jovem entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, e descarregou as munições de dois revólveres sobre crianças que estavam em salas de aula. Doze morreram. Os demais alunos e professores que presenciaram o massacre enfrentam um longo período de retomada. Dentro dos muros cercados por andaimes colocados ao redor do prédio para reformas, tudo ainda parece estar em reconstrução, inclusive a rotina.
A antiga entrada da Tasso da Silveira foi bloqueada por um muro. Provisoriamente, os alunos ingressam através de um pequeno portão na lateral da escola. Uma guarda municipal faz a segurança e uma funcionária fica encarregada de abrir e fechar o cadeado cada vez que um aluno ou professor ingressa. As aulas ocorrem em salas improvisadas, onde antes era a quadra esportiva. Homens trabalham intensamente nas paredes do prédio. A ideia é fazer da Tasso da Silveira uma escola municipal modelo.
A porta aberta mais próxima da escola é de Cleusa Barbosa Baptista, 60 anos. Ela vende pequenos alentos em forma de balas e doces. A loja é praticamente parada obrigatória antes e depois das aulas. Crianças uniformizadas entram, deixam uma moeda de 50 centavos e saem com as mãos recheadas de balas a 5 centavos cada. Algumas compram biscoitos mais caros, outras pegam e deixam para pagar depois. "São todos como se fossem meus filhos", diz.
Ao meio-dia, horário em que normalmente haveria troca de turno na escola, Cleusa deixa um livro de lado e explica que o movimento em seu comércio caiu muito desde a tragédia. "Ficamos todos apavorados. Quando ouvi aqueles tiros, não sabia o que fazer. Logo ficamos sabendo que era dentro da escola e as crianças começaram a passar correndo pela rua", lembra. Cleusa diz que as crianças estão voltando aos poucos, mas não como antes. "Minha lojinha vivia cheia", afirma.
Seis meses depois, não há sinal de que tudo tenha voltado ao normal. Além da reforma, da tentativa de superar o trauma, das lembranças, haverá sempre a falta de 12 colegas: Luiza Paula da Silveira, 14 anos; Karine Chagas de Oliveira, 14; Larissa dos Santos Atanázio, 13; Rafael Pereira da Silva, 14; Samira Pires Ribeiro, 13; Mariana Rocha de Souza, 12; Ana Carolina Pacheco da Silva, 13; Bianca Rocha Tavares, 13; Géssica Guedes Pereira, 15; Laryssa Silva Martins, 13; Milena dos Santos Nascimento, 14; e Igor Moraes da Silva, 13 anos.
Um dos tiros disparados por Wellington causou uma lesão na medula de Tayane Tavares, 14 anos, que ainda tenta recuperar o movimento das pernas. Segundo a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, 54 alunos pediram transferência da escola. No entanto, 84 alunos a mais pediram para entrar na Tasso da Silveira, que hoje tem 1.119 alunos.
Perto das 13h, duas meninas entram na loja de doces. Uma pergunta o preço de um pacote de salgado e a outra escolhe algumas gomas de mascar. Elas pagam e seguem para a escola. Cleusa observa elas seguirem o caminho. "Já vi reportagens, ouvi psicólogos, especialistas e pessoas de religião, mas continuo sem entender por que alguém fez uma coisa dessas", reflete.
Tragédia em Realengo
Um homem matou pelo menos 12 estudantes a tiros ao invadir a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã do dia 7 de abril de 2011. Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, era ex-aluno da instituição de ensino e se suicidou logo após o atentado. Segundo a polícia, o atirador portava duas armas e utilizava dispositivos para recarregar os revólveres rapidamente. As vítimas tinham entre 12 e 14 anos. Outras 18 ficaram feridas.
Wellington entrou no local alegando ser palestrante. Ele se dirigiu até uma sala de aula e passou a atirar na cabeça de alunos. A ação só foi interrompida com a chegada de um sargento da Polícia Militar, que estava a duas quadras da escola. Ele conseguiu acertar o atirador, que se matou em seguida. Em uma carta encontrada com ele, Wellington pediu perdão a Deus e deixou instruções para o próprio enterro - entre elas que nenhuma pessoa "impura" tocasse seu corpo.
Dias depois, a polícia divulgou fotos e vídeos em que o atirador aparece se preparando para o ataque durante meses. Em um deles, Wellington justificou o massacre por ter sido vítima de "bullying" praticado por "cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem". Na casa dele, foram encontradas diversas anotações que mostraram uma fixação pelos ataques de 11 de setembro de 2001. O atirador acabou enterrado como indigente 15 dias após o massacre, já que nenhum familiar foi ao Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo.
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